por Camila Micheletti
Ela foi a Primeira Bailarina do Teatro Municipal de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi professora, coreógrafa e diretora da Escola Municipal de Bailado de SP por 33 anos e há 43 leciona para as alunas do último ano de ballet clássico na Sociedade Esportiva Palmeiras, em São Paulo.
Este currículo invejável pertence à Marília Franco, 80 anos de idade recém-completados, sendo 68 deles dedicados ao ballet. “Comecei a dançar aos 12 anos, porque era muito pequena para minha idade e o médico recomendou que fizesse algum esporte”, conta a bailarina.
Ela começou por acaso, mas o talento logo despertou a atenção de todos. Com apenas 18 anos, Marília decidiu prestar o concurso para integrar o primeiro e disputado corpo de baile do Teatro Municipal de São Paulo. “Foram mais de mil concorrentes de todas as partes do Brasil, mas apenas 20 bailarinas e 5 bailarinos foram selecionados”. Foi uma época de muitas vitórias para Marília: ela foi selecionada, acabou se tornando a primeira bailarina do Teatro e conheceu o então professor russo Vaslav Wetchek, com quem se casou em 1943. “Era muita diferença de idade, eu tinha 20 anos e ele 46. Ficamos casados por apenas 10 meses”. O casamento dos dois, segundo ela, foi o acontecimento do ano. “Era tanta gente parada na porta que só para entrar na Igreja levei uns 15 minutos”, comenta ela, rindo.
O convite para ingressar na Companhia de Ballet internacional, “O original Ballet Russo”, também aconteceu por acaso. “O mundo passava pela Segunda Guerra Mundial, então conversando com uns bailarinos de lá descobri que eles estavam recrutando pessoas para trabalhar com eles, porque estava com falta de gente por causa da Guerra. Falei brincando ‘se vocês me chamarem eu vou’. No dia seguinte eles ligaram em casa, perguntando se eu estava interessada em participar”. Com a famosa companhia Marília viajou pelo mundo durante quatro anos, representando o Brasil como primeira solista da companhia.
Ao voltar para o Brasil, a bailarina prestou concurso para a Escola Municipal de Bailados de SP. “Tinha prova teórica e prática. Na escrita escrevi durante três horas sobre a história da dança, o que rendeu dez folhas de almaço e a vaga pretendida”. Lá Marília trabalhou como professora, coreógrafa e depois chegou a diretora, cargo que ocupou por 33 anos, onde também montou o corpo de baile clássico. “Só fui me aposentar em 1980, aos 55 anos, mas mesmo assim nunca deixei de trabalhar, até hoje dou aulas e sou vice-presidente do Sindicato de Dança, o SINDDANÇA”.
Parece fácil, mas dificuldades não faltam na trajetória dos profissionais de dança. “Para começar a ganhar um pouco de dinheiro e ser reconhecida você precisa batalhar muito, porque o Brasil não tem uma tradição de escolas de dança, o mercado é muito restrito. Quem quer viver disso deve gostar muito de dançar, ter talento e força de vontade. Vários profissionais acabam desistindo no meio do caminho”.
Marília Franco completou 80 anos no último dia 24 de abril, sempre com muita disposição, lecionando e formando profissionais. “Alguns dos melhores profissionais de Ballet Clássico atualmente foram meus alunos, como Aracy de Almeida, Gil Saboya, Ismael Guiser, Camila Pupa, entre outros”. Seu segredo para chegar a esta idade com tanto entusiasmo, boa forma e disposição? “Amo o que faço, amo a dança e sei que não conseguiria e nem poderia fazer outra coisa nesta vida”.
Apaixonada pelo trabalho, aos 80 anos
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